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Alguns dos meus trabalhos apresentam uma característica comum no seu modo de construção, o espelhamento. Essa estratégia de construção que cria uma outra dimensão na percepção da figura humana, vem sendo aplicada nos corpos que tenho trabalhado desde 2004. No início, eu espelhei a figura feminina ereta porque era uma forma mais simples de construção. Foi a partir de três manequins de fibra de vidro que foram cortados em várias partes e reassamblados. A minha segunda experiência com a figura humana já foi a partir do auto-retrato e através de moldes feitos diretamente no meu próprio corpo que me proporcionaram muito mais liberdade na criação porque eu tinha um modelo de anatomia sempre disponível. A partir disso, os resultados das esculturas passaram a ser mais complexos e sofisticados.
O cabelo, quando aparece em alguns trabalhos, serve como um recurso que desorienta a posição lógica da figura. Em outros momentos, esse recurso de desorientação aparece como objetos e acessórios que interagem com esse corpo para ocultar parte dele e confundir quem o observa.
O auto-retrato que no início surgiu por conveniência, por eu ser o modelo vivo mais disponível e viável economicamente, com o tempo ganhou relevância maior e protagonismo principalmente porque esses autorretratos acabaram se tornando simbolicamente um retrato coletivo de todas as mulheres. Com o tempo eu fui percebendo que as mulheres se identificavam e se projetavam nas minha figuras femininas e eu percebi que o que eu estava tentando expressar era um espécie de relato coletivo e que a arte de fato é o grande promotor de mudanças sociais.
A tentativa de enquadramento das mulheres em qualquer padrão inalcançável imposto pela sociedade patriarcal desde os padrões de comportamento até os estéticos, que envolvem o corpo e a beleza, só geraram ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, histeria e suicídio. No melhor dos cenários, mulheres independentes, emancipadas com carreiras bem sucedidas, investem fortunas na indústria dos cosméticos e muitas vezes correm riscos fatais em procedimentos da medicina cosmética. A indústria pornográfica também teve seu lucro através da exploração da mulher tirando proveito do alcance conquistado desde a Revolução Sexual. A influência da tecnologia que por um lado pode acentuar de forma global todos os problemas citados acima, por outro lado, potencializa a voz das camadas mais frágeis da sociedade, geralmente muito fragmentadas e limitadas a um determinado espaço. A imagem do corpo real versus o corpo virtual na vitrinização no ciberespaço viabilizou o ciberativismo que tem como um dos objetivos a não marginalização dos corpos fora dos padrões estéticos dominantes.

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