FORCA recebe esculturas de Monica Piloni:

Casal horizontal

2022

Fibra de vidro, pintura automotiva e cabo de aço 63 x 86 x 30 cm

Ao longo da história, homens da monarquia ou da nobreza aparecem documentados em retratos equestres desde antes do período Helenistico e da Roma antiga. Esses homens buscavam poder através de seus retratos em tronos ou em poses heroicas sobre cavalos. O corpo nu de uma mulher e o cavalo são espécies de ornamentos muito populares nos temas ao longo dos séculos no timeline de estilos e movimentos da história da arte. Além de ornamentos, mulheres e cavalos tiveram uma participação como objeto utilitário fundamental para promover o desenvolvimento da humanidade. A relação que se tem notícias entre o cavalo e o ser humano começa no neolítico e coincide com indícios do início do patriarcado e a transformação da mulher num objeto reprodutivo e doméstico.

Mesmo depois da invenção do automóvel, o cavalo e outros animais herbívoros de grande porte, continuam servindo como motores de tração para os seres humanos. Estamos no zeitgeist dividido entre o analógico e o digital, o mecânico e o eletrônico, onívoros e veganos.

Casal é uma escultura que foi produzida a partir da observação dos retratos equestres. O artifício do espelhamento facilitou a eliminação da figura humana da cena colocando o cavalo como protagonista. Esse estranho animal de duas ancas simula movimento de coice ao mesmo tempo que empina, tem um gênero diferente em cada extremidade do corpo e flutua no espaço fazendo alusão à liberdade.

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Boneca Fantasma e Série Ilegais
2013
Mármore 72 x 20 x 20 cm

À primeira vista, a escultura parece uma boneca que está de costas mas, quando nos deslocamos ao redor dela em busca da face que supostamente orientaria a frente da escultura, notamos que ela é inexistente. Nesse momento, percebemos a presença de uma terceira perna. A figura que parecia um bípede na verdade é um tripé. Seu corpo não é bilateralmente simétrico como da figura humana mas radial, no qual um padrão se repete em torno de um eixo central. A simetria radial é especialmente adequada para animais que não se locomovem e, normalmente, não exibem os lados esquerdo ou direito mas têm uma superfície superior e inferior e, a ausência de cabeça. A cabeça é um atributo dos organismos de simetria bilateral, mas apesar de ser radial, a Boneca tem cabeça. O tripé é uma característica dos objetos e já que não existe nenhum ser vivo com três pernas, a Boneca poderia ser uma espécie de híbrido de sujeito e objeto.

A simetria radial dessa figura ocorre porque ela foi construída a partir exclusivamente de objetos com essa mesma simetria como baldes, bacias, garrafas e potes que tiveram suas aberturas viradas para baixo perdendo sua função original. Esses objetos banais foram reproduzidos em mármore e depois empilhados em combinações que remetem à uma boneca. A série Ilegais é composta por esses híbridos de bonecas produzidas em diferentes técnicas e materiais como mármore, cerâmica, bronze e plástico com cabelo sintético.

As peças que compõem a Boneca Fantasma e, são de mármore do Espírito Santo e foram trabalhadas em torno elétrico para garantir o seu aspecto radial. Diferente do mármore de Carrara que possui uma textura homogênea devido a sua composição predominante de calcita, os mármores brasileiros são extremamente rígidos por apresentarem variações de quartzo e outros minerais mais duros. Por um lado, esse aspecto dificulta o trabalho manual, mas por outro, reduz os impactos ambientais associados ao transporte pois é extraído de uma das jazidas mais próximas da cidade de São Paulo.

Por essas características, os mármores nacionais estão principalmente associados ao design de interiores encontrados com frequência em revestimentos de pisos e paredes do que em objetos de arte. Mas também está muito associado às lápides de cemitérios, assim como a Boneca Fantasma e, que remete a esses objetos fúnebres pela sua forma e material. Para os gregos antigos, a pedra simbolizava a eternidade da alma e está associada à morte por sua resistência ao tempo.

Monica Piloni

Vivemos um período marcado pela aceleração da tecnologia, do capitalismo e da destruição ambiental, sendo consensual que o crescimento da espécie humana acelerou exponencialmente esses processos. Nossa incapacidade de lidar com os problemas criados por nós mesmos nos tornou obsoletos como espécie e como ideal, evidenciando a urgência de nos superarmos. Em um momento em que é urgente focar em questões relacionadas à preservação do biossistema, ainda precisamos lutar contra problemas que já deveriam estar superados, como misoginia, racismo, homofobia e xenofobia, entre muitos outros. Nesse contexto, novas identidades são formadas e uma nova abordagem é necessária para refletir a realidade.

A simetria reflexiva ou rotacional, utilizada como recurso estético na construção da maioria dos trabalhos de Piloni, cria novas versões de corpos que rompem com as suas constituições biológicas. Essas figuras exibem a anatomia não convencional de seus corpos para ajudar a elaborar e imaginar o contexto histórico e global de nossa era. Esta abordagem rejeita a ideia da postura universalista de nossa espécie como a -suposta medida de todas as coisas- critica a ideia da hierarquia das espécies e da excepcionalidade humana. Algumas figuras podem remeter à criaturas como demônios, outras a personagens mitológicos ou seres extraterrestres, mas acima de tudo, representam a capacidade de se manifestarem por meio de diferentes identidades e de mudar perspectivas com fluidez.

Em busca de reconceber o reconhecível, a artista utiliza diversas linguagens, mas principalmente a escultura, seja ela física, virtual, fotografada, montada sobre uma base ou em forma de instalação, em diferentes materiais como bronze, mármore, cerâmica, fibra de vidro, plástico e outras mídias como próteses oculares, cabelo sintético e humano, unhas postiças e outros acessórios que podem ser facilmente encontrados em um ambiente doméstico/cosmético.

Entre suas exposições individuais, destacam-se Allegories of Triversity (2024), Galerie Met, Berlim, Alemanha, Simetrias Dissidentes (2022), MAC Sorocaba, Humanas, demasiado humanas (2022) e Ciclo (2019) na Zipper galeria, em São Paulo. Participou de mostras coletivas como no Imaginair Art Space, Bruxelas, Bélgica, na Biblioteca Mário de Andrade em São Paulo, no Instituto Figueiredo Ferraz em Ribeirão Preto e no Museu Nacional de Belas Artes e na CAIXA Cultural, ambas no Rio de Janeiro, entre outras. Seu trabalho figura em importantes coleções brasileiras como MAC Niterói, Coleção João Sattamini, Instituto Figueiredo Ferraz, MAC Sorocaba e em coleções particulares como a de Bernardo Paz, Cleusa Garfinkel, Paulo Sartori, Calmon-Stock, José Marton e Casa Caus em Lisboa.

Monica Piloni, nasceu em Curitiba em 1978 e graduou-se pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná em 2002. Vive e trabalha em Bruxelas, Bélgica.